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A importância da participação dos pais na educação escolar
Por Leo Fraiman – OPEE Educação
Participar é tomar parte, estar ao lado, não é fazer pelos filhos
Quando os filhos são novos, ainda crianças, é comum que os pais participem intensamente de suas vidas. Basta olharmos as festas realizadas nos primeiros anos, o esforço que é feito para contratação dos buffets infantis e demais atrações para os convidados. Festas lindas, programadas com meses de antecedência e fotografadas intensamente. E postadas, claro.
Os primeiros campeonatos, audições de música, as primeiras peças de teatro na escola. Tudo isso é acompanhado de perto pelos pais e até por outros familiares. Às vezes, há tantas câmeras nestes eventos, que parece uma final de copa do mundo. Infelizmente porém, com o passar dos anos, a criança deixa de ser uma novidade, os afazeres dos pais (e as contas) se avolumam, o casamento também já sofre os efeitos do tempo e com alguma frequência os pais se afastam da vida escolar de seus filhos. Perigo à vista.
Sem o acompanhamento dos pais, muitas vezes os filhos perdem a motivação e acabam por adotar comportamentos inadequados, com graves prejuízos não somente à sua formação escolar, como no preparo para a vida. É verdade que muitos dos conteúdos aprendidos na escola não serão usados na vida futura. É verdade que em muitas das profissões, os alunos jamais aplicarão diretamente aquilo que estava nos livros escolares.
Porém, é preciso refletir se no mundo adulto, no mercado de trabalho e nas relações maduras, só fazemos o que queremos, se diante das adversidades nos é permitido esmorecer e se temos o direito a escolher em nossa carreira fazermos somente as atividades com as quais estejamos muito motivados. Ora, se os filhos aprendem em sua casa que suas obrigações e responsabilidades não devem ser tão levadas a sério, como eles amadurecerão? Se os pais não acompanham os afazeres dos filhos, como eles saberão que eles se importam de verdade com seu desenvolvimento? Nem sempre a criança fará suas atividades completamente motivada.
Leva alguns anos para que elas internalizem um senso de dever, responsabilidade e se tornem autônomas. Se seus pais as motivam, apoiam e cobram, elas têm uma chance real de desenvolver-se educacionalmente, moralmente e afetivamente. A autonomia (governo de si sobre si mesmo) começa com a heteronomia (governo dos outros sobre si). Pais participativos entendem que seu papel é o de educadores, de modelos, de inspiradores.
É preciso haver um alinhamento entre aquilo que se diz e o que efetivamente se faz pela educação dos filhos. Isso significa colocar em prática ações que deixem claro para as crianças e para os adolescentes que a educação é um bem essencial e que um bom desempenho na vida escolar é fundamental para o sucesso da vida adulta e até para a felicidade, que não é conquistada pelo imediatismo, deixando as coisas pela metade ou realizando as coisas de qualquer jeito. Autoestima também decorre de esforço, o que nem sempre é divertido nem fácil.
Hoje em dia, para ingressar em um vestibular para uma instituição de ensino de primeira linha há dezenas ou centenas de candidatos por vaga. Em uma empresa de alta performance, processos seletivos podem chegar aos milhares de candidatos. Como chegar a ser elegível, sem um bom rendimento e andamento escolar? Quem desejaria contratar um candidato que tenha pouco a oferecer?
E que os pais não se enganem com o crescimento dos filhos. Quando eles chegam na adolescência ganham maior poder de argumentação (e isso dá mais trabalho sim) e também seu tamanho corporal aumenta. Hoje, muitas vezes os filhos ganham estatura precocemente e passam seus pais. Com isso, eles ficam sem saber se estes já são adultos e se enganam deixando para eles a decisão sobre como e até onde estudar. Porém, em geral, nesta etapa de vida os filhos ainda são imaturos perante uma série de questões e ainda não conseguem perceber os reais efeitos de muitas de suas escolhas. É preciso um cuidado muito especial com esta etapa. A saída é presença, diálogo aberto e assertivo, respeito e bastante paciência, pois eles testarão os limites dos pais.
Algumas ações dos pais podem fazer uma boa diferença.
Atitudes de envolvimento prático – olhar cadernos, debater as lições indicadas, oferecer alguma ajuda e motivação para os trabalhos escolares, se interessar pelas leituras propostas, entrar sistematicamente no portal da escola para acompanhar as atividades e o retorno da escola sobre o dia a dia do filho. Tudo isso demonstra um zelo cotidiano e um apreço da família pelo que acontece na educação de seus filhos e dá a estes um senso de importância: “O que eu estudo é importante”; “Eu tenho valor aqui nesta casa”; “Minha família se importa de verdade comigo e meu futuro”.
Atitudes esporádicas – a participação em reuniões de entrega de boletins, nas palestras oferecidas pela escola, em festas, campeonatos, peças de teatro encenadas no colégio. Tudo isso mostra uma participação espontânea, que indica que os pais realmente sentem apreço por aquele contexto e o que é feito ali tem valor.
Atitudes extraordinárias – são passeios que os pais realizam com os filhos para ver na prática algum conceito ensinado, um site que os pais visitam com os filhos para aprender algo juntos, um amigo que trabalhe numa área que a criança sinta interesse e é convidado a jantar em casa para falar do seu trabalho a fim de inspirar o filho, nos finais de semana passear em alguma livraria ou biblioteca e todos pesquisarem alguma leitura interessante que pode ser feita (quem sabe juntos no sofá da sala, cada um dentro do seu interesse). Esta dimensão da participação mostra que há um cultivo de interesses que vão além das tarefas e necessidades, que aprender é bom, gostoso e une a todos.
Há filhos que tem pais cujos avós participaram de sua vida escolar de forma positiva. Estes costumam ter mais facilidade de entender que sua presença faz a diferença. Outros, justamente por não terem recebido este bem de seus próprios pais (os avós) se afastam da educação escolar. Por isso é preciso lembrar que aquele ditado que “só damos o que temos” não é uma verdade absoluta. Uma pessoa pode conscientizar-se que seus filhos merecem ter pais presentes, que se eles participarem, seus filhos tenderão a obter um desempenho melhor e que isso poderá fazer muito pelo futuro deles; e justamente por não ter recebido este cuidado esforçar-se para fazer o certo. Podemos sim criar o novo dentro de nós. Isso começa com a percepção de que é muito melhor libertarmo-nos do passado e criarmos o futuro que realmente desejamos em nosso lar. Por que é o nosso lar, é a nossa vez, é a nossa família.
Quando os pais se mostram presentes, quando eles cuidam de verdade, quando a família se mostra para além dos laços de sangue, e se constitui por laços de amor e consideração efetiva, quando há uma verdadeira familiaridade não são somente os filhos que ganham, também os pais saem beneficiados.
Diante deste cenário de envolvimento, os problemas são detectados precocemente. As ações necessárias são muito mais fáceis de serem equacionadas. O diálogo do dia a dia deixa mais fluidas as decisões. As mudanças ficam mais fáceis de serem implantadas e não se deixa para o final do ano para mudar o que muitas vezes já nem daria mais tempo.
Além disso, há mais paz de espírito em casa, na medida em que os filhos não precisam aprontar para serem vistos. Se eles têm um bom “palco”, se eles tem presença e se sentem vistos, não precisarão adotar comportamentos inadequados para que sejam percebidos e cuidados pelos pais. Tudo isso traz uma grande paz de espírito para estes pais, pois sabem que estão fazendo o que é certo.
Quando escolhemos deixar ao mundo mais do que recebemos construímos um legado nobre para que as próximas gerações sejam abençoadas com amor em seu coração e luz em suas mentes para que elas tragam ao mundo o melhor de suas almas por meio de gestos sábios.
Ilustração Comunicação Escola Futura